segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A PONTE (The Bridge, EUA e Reino Unido) Eric Steel - 2006

A ponte Golden Gate, em São Francisco, além de ser uma bela construção, é palco preferido para uma das práticas mais definitivas do ser humano: o suicídio. Em 2004, vinte e quatro pessoas realizaram esse feito. Em uma altura de pouco mais de sessenta metros, do tabuleiro até a água, o impacto da queda tornaria sólida a superfície azul; o suficiente para matar alguém instantaneamente.O filme de Eric Steel possui um assunto interessantemente inusitado para ser tratado. Contudo, conforme avança, “A Ponte”, com seus mais diversos depoimentos, geralmente de parentes das vítimas, adquire tons dramáticos e até sobrenaturais.O caso mais comum é de pessoas com fortes depressões em longos prazos que, em determinado momento, não tinham mais nada na cabeça a não ser pular. Aqueles minutos, já na Golden Gate, são decisivos. Em pouquíssimo tempo, pode-se estar morto ou ter se salvado, embora a segunda opção seja quase nula.A equipe do documentário filmou a estrutura durante um ano, flagrando algumas mortes. Em alguns poucos casos, a tragédia não ocorre. São nos depoimentos dessas pessoas, salvas por estranhos ou pelo destino, que a produção se fortalece ainda mais.Várias tomadas são feitas da ponte. Em certo ângulo, a sombra dela forma uma cruz no meio da água, como se as mortes fossem inevitáveis. Há casos que pessoas vêm de longe pra se matar. Enquanto isso, à beira da baía de São Francisco, crianças jogam futebol, curtindo o início de suas vidas. É um paradoxo aterrador, visto por este ponto.O filme começa interessante, preparando o assunto ao espectador, mas se repete em seus depoimentos. Como já dito, só melhora quando parte para os casos especiais. Contudo, ver as pessoas morrendo de maneira tão simples e rápida, chega num questionamento filosófico de nossa existência. Mesmo sabendo a motivação dessa gente, julgá-los fica pra segundo plano. No fundo, é uma decisão unicamente deles. Sem contar que, com a salvação, nunca mais seriam os mesmos para os outros, como acontece ali com um feliz sobrevivente.No meio de uma névoa insolúvel sob o Golden Gate, o suicídio nunca foi tão triste e encantador, ao mesmo tempo. No caminho até a ponte, a morte pede carona. Depois disso, só um milagre salva.